Nunca estamos preparados para ela, na verdade nem a queremos por perto.
Naquela noite fria de domingo, enquanto alguns estavam em igrejas e outros
em bares, ela passeava, procurando o próximo da sua lista, procurando aquele
que seria o assunto da manhã de segunda feira.
Como quem já sabe onde encontrar o que procura, de longe ela o avista em
sua moto preta com faróis azuis parado em um sinal. Ela o admirava e tentava
imaginar como foi sua vida... Foi um bom pai? Foi pai? Deixou um legado? O que
as pessoas diriam ao falar seu nome? Mas isso já não importava mais, não para
ela que estava apenas a trabalho e não podia se envolver emocionalmente.
Aquela silhueta ao longe, de um homem sobre a moto com uma perna tocando
ao chão, lhe dava um arrepio na espinha e uma mistura de êxtase com medo. O
sinal fica verde, não dá mais tempo para pensar pois ele vem em direção a ela,
que o olha fixamente. Os dois cruzam seus olhares e, como se o tempo parasse,
ela faz lentamente um sinal com a cabeça.
Em forma de cumprimento ou despedida? Não se sabe, mas no próximo segundo
ele já está no chão. Seu corpo treme e seus olhos varrem o local a procura
daquela mulher misteriosa de capa preta que o cumprimentou, mas ela já não
estava mais lá... enquanto sua respiração diminuía e seus olhos se fechavam ele
pensava: "A morte fez o seu trabalho e agora se foi, para o próximo da
lista..."